domingo, 14 de março de 2010

A Vida dos Outros (2006)






Estado e indivíduo. Direitos e deveres. Poder e submissão. O eterno cabo de guerra entre forças antagônicas. Os abusos que o Sistema exerce em cima do indivíduo e a resistência destes (ou não) diante de tamanha pressão. Relações de força me atraem de forma muito singular. E quando encontro isso bem trabalhado em forma de arte, seja num livro, filme, canção, peça ou poema, aplaudo a criatividade do autor.

Em A Vida dos Outros(Alemanha), do diretor e roteirista Florian Henckel von Donnersmarck, que ganhou em 2007 o Oscar de melhor filme estrangeiro, vemos o que um governo totalitário faz com a vida particular das pessoas. Sobretudo com aquelas que pensam e que são vistas como ameaça ao Establishment.

É novembro de 1984, Alemanha Oriental, ainda sob o regime socialista, um diretor de teatro, Georg Dreyman e sua namorada, a atriz Christa-Maria Sieland, passam a ser espionados pela Stasi, polícia secreta da República Democrática Alemã, com a acusação de que as peças de Dreyman levam em seu conteúdo idéias contrárias as do governo. Um espião, Gerd Wiesler, é convidado à missão de descobrir quais são as verdadeiras intenções desses artistas. Começa então um verdadeiro Big Brother, não por coincidência a história se passa em 1984, remetendo-se a George Orwell. Câmeras e microfones são instalados no apartamento do casal, e, pelo andar de cima, eles passam a ser vigiados 24 horas por dia. Tudo que é tido como relevante entra num relatório escrito numa máquina de escrever.

Gerd Wiesler, o espião, um homem frio e meticuloso, competente naquilo que faz e totalmente a favor do governo, penetra na vida desses dois artistas de forma tão extrema, vivendo as suas dores, relatando as suas esperanças, que algo começa a se modificar em sua percepção da vida. A arte e sua paixão arrebatadora contra a frieza do estado burocrático e controlador. Eis o ponto em questão. Uma luta velada de psicologias conflitantes, tendo como pano de fundo as idéias de liberdade e opressão, leva o filme a um final que é melhor o querido leitor ver por si mesmo.


Escrito e dirigido por um jovem de apenas 33 anos de idade, a Vida dos Outros é um filme inteligente, sensível e com um ótimo roteiro. Que não se preocupa apenas em ganhar dinheiro na indústria do cinema, mas fazer as pessoas pensarem até que ponto o Estado pode controlar e invadir a privacidade das pessoas.